Já
diria Chico Buarque: "As pessoas têm medo das mudanças,
eu tenho medo que
as coisas nunca mudem."
Sempre tive curiosidade em saber a razão do receio pela mudança que
a maioria das pessoas têm, uma vez que a estagnação nunca foi o meu forte. Me incomoda
observar pessoas sem ambição, sonhos ou qualquer coisa do tipo e sim, nada
disso é problema meu, mas é muito triste pensar que a rotina - nem sempre fácil
- seja motivo suficiente para alguém acordar todos os dias. E foi em virtude
desse meu descontentamento com tantas questões humanas, que procurei a luz no
fim do túnel da psicanálise.
Não,
meu intuito neste parágrafo não é fazer propaganda de livros Freudianos, mas
sim citar um dos meus insights durante
essa jornada que mudou minha vida. Certo
dia, perguntei à minha terapeuta: "Por que as pessoas não podem mudar se
eu quero tanto mudar?". Ela olhou fundo nos meus olhos e apenas disse de
forma serena: "Repita essa frase". Quando repeti, encontrei a resposta
que tanto procurava: a predileção pela zona de conforto, um ambiente totalmente
oposto à uma sala de terapia.
Quem
conhece tal ambiente sabe que é impossível mudar o pensamento e as atitudes
alheias, mas minha insensata teimosia insistia em tentar reverter esse quadro.
A partir de então, comecei a relatar questões abordadas nas minhas sessões para
minha família e amigos, na ânsia de fazê-los mudar de ideia, se mexerem, saírem
da estabilidade que mais parece uma areia movediça na realidade. Ao invés de sanar
meus próprios problemas diretamente, tentava ajudar os outros que, adivinhem, não
queriam ser ajudados. Decepção. Tiro saindo pela culatra. Eu jogando o dinheiro
da minha terapia no lixo.
Mas o
grande paradoxo nisso tudo é que as coisas mudam independente de nossa vontade:
Pessoas que mais amamos se afastam, mudam de país ou partem para sempre. A
sorveteria que existia antes em uma determinada esquina já não está mais lá.
Amigos casam, têm filhos, trocam suas prioridades. Mudamos de opinião, de
dieta, de casa, de sonhos. Envelhecemos.
Eu,
que sou grande fã da mudança, já quis interromper esse ciclo não por medo das
rugas, mas das partidas. Sinto falta da rotina com a minha família, lamento por
não ter mais amigos queridos por perto, gostaria de tomar o sorvete naquele
lugar especial e de principalmente, permanecer livre. Isso me machucou tanto
que quis não crescer mais numa espécie de Síndrome de Peter Pan, para que as coisas
permanecem o mais fidedignas possíveis às minhas lembranças mais deliciosas.
Naquele momento, questionei Chico.
De qualquer
forma, nada adianta a forma como me sinto em relação a isso. Nada muda em relação
ao fato de que tudo muda. A vida continua de uma forma ou de outra, com ou sem
fulano, ciclano ou beltrano e o tempo e a energia que estava perdendo em minhas
lamentações/decepções só me deixavam mais longe dos meus sonhos e da minha vontade
de viver. Com isso, não conseguia enxergar a minha evolução, o quão fortalecedora
foi minha caminhada, as derrotas e vitórias que hoje fazem parte de quem eu
sou. Essa metamorfose de emoções dentro de mim me definiram mas não foi
definitiva... Ela é tão confusa e persistente, mas isso é talvez assunto para
um outro texto. Até lá, pode ser que tudo mude de novo.